Lélia Gonzalez: O feminino
negro no palco da história
Filha de um ferroviário negro e de uma
empregada doméstica indígena era a penúltima de 18 irmãos, entre eles o
futebolista Jaime de Almeida, que jogou pelo Flamengo. Nascida em Belo
Horizonte, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1942. Graduou-se em História e
Filosofia e trabalhou como professora da rede pública de ensino. Fez o mestrado
em comunicação social e o doutorado em antropologia política. Começou então a
se dedicar à pesquisas sobre relações de gênero e etnia. Foi professora de
Cultura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde
chefiou o departamento de Sociologia e Política. Como professora de Ensino
Médio no Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (UEG, atual UERJ),
nos difíceis anos finais da década de 1960, fez de suas aulas de Filosofia
espaço de resistência e crítica político-social, marcando definitivamente o
pensamento e a ação de seus alunos. Ajudou a fundar instituições como o
Movimento Negro Unificado (MNU), o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras
(IPCN), o Coletivo de Mulheres Negras N'Zinga e o Olodum. Sua militância em
defesa da mulher negra levou-a ao Conselho Nacional dos Direitos da Mulher
(CNDM), no qual atuou de 1985 a 1989. Foi candidata a deputada federal pelo PT,
elegendo-se primeira suplente. Nas eleições seguintes, em 1986, candidatou-se a
deputada estadual pelo PDT, novamente elegendo-se suplente. Seus escritos,
simultaneamente permeados pelos cenários da ditadura política e da emergência
dos movimentos sociais, são reveladores das múltiplas inserções e identificam
sua constante preocupação em articular as lutas mais amplas da sociedade com a
demanda específica dos negros e, em especial das mulheres negras.
Legado
Dentre
outras homenagens, Lélia Gonzalez tornou nome de uma escola pública estadual no
bairro de Ramos, no Rio de Janeiro, de um centro de referência de cultura
negra, em Goiânia, e de uma cooperativa cultural, em Aracaju. Foi citada pelo
bloco afro Ilê Aiyê em duas edições do Carnaval baiano: em 1997, como parte do
enredo Pérolas negras do saber, e em 1998, com Candaces. O dramaturgo Márcio
Meirelles escreveu e encenou em 2003 a peça teatral Candaces - A reconstrução
do fogo, baseada em sua obra. Em 2010, o governo da Bahia criou o Prêmio Lélia
Gonzalez, para estimular políticas públicas voltadas para as mulheres nos
municípios baianos.
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